2 de fev. de 2009

Gestão de Pessoas na Web 2.0: do plano de negócios ao modelo de negócios

Hoje a maioria das corporações quer um plano de negócios. Entre os canditados a empreendedores esse é um grito de guerra. Entre os acionistas esse é um tema imprescindível. E até na internet o termo esta pegando (ou bombando como dizem agora os jovens). Alias, esse termo já virou moda até mesmo entre o pessoal da Web 2.0. Em relação ao conceito nada contra, mas o que realmente traz confusão a mente da maioria das pessoas (e dos bloggueiros também) é confundir plano com modelo de negócios!

Esta é, sem dúvida, uma herança dos tempos de Newton. Dos tempos em que pensávamos mais em “encaixes” do que em “estruturas”. Explico já! Um plano de negócios, na maneira como ele é concebido geralmente (pegando o senso comum que vejo em muitos sites) é baseado no que você quer fazer. Por isso o termo “plano”. Napoleão tinha plano de invadir a Rússia tal como Hitler. Muitas pessoas fazem planos ao sair da faculdade.

Para se conceber um plano é preciso apenas encaixar idéias e por no papel. Por isso o chavão: coloque seus planos no papel. Você pode trabalhar em um plano até ele ficar redondinho. Você concebe o que vai vender, para quem vai vender, como vai vender, por meio de quem vai cobrar, como vai receber etc. É bem possível que um universitário responda todas estas questões satisfatoriamente. Aliás, há até jogos como “valor imobiliário” que ensinam isso!

Ensinam as crianças a encaixar uma idéia na outra como se fossem bloquinhos de lego. Tudo só, e somente, tem que funcionar como um “relógio” e tudo estará bem. Esta é a lição ensinada. Essa é a herança Descartes. Ele via o mundo como uma máquina. Como um relógio. Tudo deveria estar no seu lugar, aliás no seu devido lugar. É a teoria cartesiana em pessoa:

Essa metafísica cartesiana ou método cartesiano nos diz de que é feito e como é feito o mundo. A realidade das idéias claras e distintas, que Descartes apresentou a partir do método da dúvida e da evidência, transformou o mundo em algo que pode ser quantificado. Veja mais
Muitos administradores adotam a lógica cartesiana (isso sem saber é claro) como base para desenvolver seus planos de negócio. Mas, um modelo de negócios é algo bem diferente! Um modelo de negócios é algo que abrange o entorno do plano. Você faz o plano (para quem para onde e por onde vender), mas o modelo leva em conta as contradições (será que vai querer comprar, por onde posso vender, e por onde é melhor). Enquanto o cartesianismo não aceita perguntas sem respostas (investiga tudo para achar a verdade) a teoria de sistemas (que é a base de um modelo de negócios) aceita questões não respondidas. Ela aceita a incerteza como algo que temos que aprender a conviver.
Todos sabem que qualquer negócio que você vai fazer contempla risco. Mesmo que o produto seja bom e o ponto seja bom ainda há risco porque um novo player (novo concorrente) pode chegar. Quanto melhor o produto e melhor o ponto mais chance de isso acontecer mais cedo. Aliás, se o seu player viu algo no seu negócio que você não viu (novas conexões com novos produtos e com novas ações sociais) você tem uma grande probabilidade de perder seu negócio. Veja o que aconteceu com a Apple nestes anos que ela foi considerada a empresa mais inovadora do mundo.


Pode-se dizer que a própria indústria de computadores pessoais começou como uma festança da Apple, quando a empresa de Cupertino, na Califórnia, apresentou o Apple II, em 1977. Desde então, ela tem desempenhado o papel de um anfitrião generoso, temperando o mercado com uma iguaria atrás da outra. Depois do computador pessoal, a Apple serviu muitos dos pratos que os usuários de computador hoje encararam como corriqueiros, incluindo a interface gráfica, o mouse, a impressora a laser e o monitor a cores. E, no entanto, a Apple tem sido forçada a assistir às celebrações pela janela: hoje, mais de 25 anos depois de sua fundação, controla apenas 2% dos 180 bilhões de dólares do mercado mundial de PCs. Veja mais

Isso é fruto de um plano de negócios bem sucedido! O plano era inovar! Steve Jobs tinha um plano em mente tal como um playmobil: vou inovar e a inovação vende porque toda inovação é boa e tudo que é bom vende muito! Foi um bom plano, mas um mau negócio. Claro que estou falando em "termos proporcionais". Sem dúvida a Apple é uma empresa bem sucedida, mas em termos do que ela pdoeria ser (e isso na visão do próprio Steve Jobs) ela poderia ser bem mais!

Quase todos concordam que os produtos da Apple não são apenas pioneiros, são também os mais fáceis de usar, freqüentemente os mais poderosos e sempre mais elegantes que os de seus rivais. E, no entanto, esses rivais seguiram as idéias criativas da Apple e abocanharam os lucros e a produção em massa que continuamente escapam às mãos da empresa criada por Jobs. O que nos leva a uma pergunta inevitável: se a Apple é realmente o cérebro da indústria -- com produtos melhores que os da Microsoft, da Dell, da IBM ou da HP --, por que ela é uma empresa tão pequena? (Nos últimos dez anos, a Apple obteve 1 300 patentes, quase uma vez e meia o número da Dell, e metade do da Microsoft -- que ganha 145 vezes mais dinheiro.) Veja mais

Realmente não tem sentido! Segundo a lógica de cartesiana de Newton isso não poderia estar acontecendo! Todas as peças estão perfeitamente encaixadas. Mas, a pergunta que não quer calar: porque a Apple não crescia (a reportagem é de 2004). A resposta não estava na lógica cartesiana, mas na Teoria de Sistemas. A resposta é que a Apple inovava, mas não se integrava ao entorno. Ela tinha plano de negócio, mas não modelo de negócio. Um modelo de negócio requer integração com o entorno um plano não. Em tese os dois requerem, mas na prática quem faz plano quer que a realidade se encaixe no seu plano (porque quem faz plano com base na lógica cartesiana não pode ficar sem respostas ou ficar com respostas vagas.

No plano de negócios tudo tem que estar quantificado enquanto no modelo de negócios você tem um esboço, mas o seu foco é se adaptar a realidade existente. Fazer um meio termo entre o que você quer fazer e o que o cliente (que esta imerso na realidade de suas próprias necessidades e não esta interessado se a empresa A ou B investe mais ou menos em P&D) quer. A Apple, ou melhor Steve Jobs, aprendeu a não ser tão cartesiano quando começou a beirar a falência mesmo sendo a empresa que mais investia em tecnologia (na realidade ela era maior empresa que investia em técnicas de produção, ou seja, invenções. A inovação é uma invenção com valor social).

A Apple passou a buscar um modelo de negócios. Ela parou de olhar para si mesmo e começou a olhar o entorno. Parou de investir em novas técnicas de produção (que a maioria chama de tecnologia) e passou a investir em inovação (técnicas com valor social que podemos chamar de tecnologias) e o resultado foi que Jobs viu o que ninguém viu (ou ousou admitir que via): era possível criar novos produtos tecnológicos com velhas técnicas. Steve Jobs não teve vergonha de suar uma técnica ultrapassada para criar um produto inovador.
Os PCs deixaram de ser apenas ferramentas de trabalho há muito tempo. Hoje são meios de comunicação e, cada vez mais, de entretenimento. Desde o fim da década passada as gravadoras sabiam que os CDs estavam com os dias contados, pois o futuro do negócio passaria obrigatoriamente pela distribuição de arquivos pela internet. Mas foi apenas em 2003, quando o iPod começou a ser tratado como sinônimo de música portátil, que a revolução do MP3 ganhou seus contornos atuais. Veja mais
A criação do Ipod não vou uma nova invenção. O equipamento já existia. Mas, a inovação (que veio do design também claro) foi uma empresa tomar isso como produto e tomar partido do mp3 (que já era uma técnica que já existia) como elemento de liberdade. Fazendo isso a Apple se tornou um ícone de uma geração de internet. Um símbolo de liberdade (a concorrente Microsoft sempre foi vista como uma tirana) para todos aqueles que viam-se ameaçados (pelas gravadoras) de perder a liberdade conquistada pelo mp3. Os jovens estavam quase queimando seus toca cds (como as mulheres queimaram sutiãs) quando Steve Jobs peitou as gravadoras.


Com acesso direto a milhões de tocadores de música, Jobs convenceu as gravadoras de que seria a Apple o melhor caminho para criar um mercado de venda de arquivos legalizados. Inaugurada em abril de 2003, a loja virtual iTunes Store contabiliza hoje a marca de 6 bilhões de faixas vendidas. A Apple vende sete em cada dez arquivos de música comercializados legalmente. Em abril do ano passado, a iTunes Store ultrapassou o Wal-Mart e tornou-se a maior vendedora de músicas do mundo. Veja mais

Em todos os outros casos os concorrentes serraram o filão de lucro da Apple e a deixaram com os custos, mas neste caso a Apple se tornou um ícone. Algo que as outras concorrentes (que fazem milhares de cópias abertamente) não podem tirar. Veja que um modelo de negócios bem sucedido na área de tecnologia não precisa de milhões de investimentos em P&D (um plano de negócios sim), mas precisa apenas ser sistêmico (e não cartesiano).

A Apple esta lucrando, e vai lucrar mais, com suas inovações sociais (tomou partido dos jovens por liberdade legalizada na internet. E interessante que os jovens não precisam pagar (ainda rola tranqüilo o tráfico de mp3 na web), mas o número de vendas de música legal na internet não para de crescer) porque ela conseguiu transformar sua inovação em um valor social. Isso somente se faz olhando-se para as pessoas e utilizando as técnicas para gerar valor para elas. Isso Milton Santos diz em seu livro Natureza do Espaço e Peter Drucker diz em seu livro Empreendedorismo. Para saber sobre o tema indico o livro "A Teia da Vida" de Capra! Veja um trecho do filme "O Ponto de Mutação" baseado no livro de Capra. Muito ilustrativo esse trecho:



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