29 de abr. de 2009

Pedagogia Empresarial: problemas de método, dicas de leitura, bibliografia e campo de atuação, mercado de trabalho

Posso afirmar sem pestanejar que novos métodos de educação serão elementos vitais para as corporações globais (ou regionais) em um futuro próximo. Isso já é uma realidade para a esmagadora maioria das corporações de alcance global, no entanto ainda esta em estágio embrionário no que se refere as empresas de médio e pequeno porte. Então sendo assim, poderíamos supor que o pedagogo (aquele que faz pedagogia empresarial) tem um lugar garantido neste novo cenário. Em tese isso é verdade, mas em tese Hitler também tinha razão em querer um mundo germânico de olhos azuis.
O fato é que a pedagogia empresarial é uma vertente da pedagogia tradicional querendo entrar no campo corporativo. Isso é bom! No entanto, a pedagogia (enquanto disciplina acadêmica) ainda traz muitos vícios do ambiente universitário e de seu campo de atuação que ainda é em sua esmagadora maioria escolar. Um deles, o mais conhecido de todos, é a idéia de “aluno ideal”. Ou seja, a pedagogia desenvolve uma idéia de que é necessário se ter condições ideais para se ter uma educação ideal.
Neste sentido, é necessário ter um aluno que esta interessado em aprender e que tem condições de aprendizado ideais (família, alimentação, carinho, afeto etc). O pedagogo (na maioria dos casos e com honrosas exceções) pensa métodos de aprendizado com base nesta imagem fictícia. Na universidade muitos pedagogos se especializaram em apontar os erros do sistema e dissertar sobre as possíveis saídas a estes empecilhos educacionais. A isso a maioria dos pedagogos chama de visão critica da realidade. É preciso criticar o que esta errado para que quem erra se toque e forneça as condições ideais para o pedagogo trabalhar. O mundo corporativo é muito, muito diferente...rs

No mundo corporativo a crítica a um determinado modelo de ação (ou organização) só tem lugar depois do problema resolvido. No mundo acadêmico a crítica tem amplo lugar bem antes do problema ser resolvido (quando a intenção não é só criticar). Mas, o mundo das corporações tem suas similaridades com o mundo acadêmico e escolar (lócus privilegiado do pedagogo): pessoas desmotivadas, pessoas que acham que o conteúdo não é importante, pessoas que acham que seu futuro não depende de aprendizado continuo, pessoas que acham besteira a educação, pessoas que acham que já sabem de tudo etc. A única diferença, e é uma diferença significativa, é que este aluno não pode levantar e sair da sala ou deixar de comparecer as dinâmicas de aprendizagem sob o risco de perder seu emprego.

Para entrar no mundo empresarial a pedagogia tem que aprender a trabalhar “com o que tem” e conseguir resultados muito positivos. Em toda a corporação capitalista o intuito é ter o máximo de rendimento com o mínimo de investimento. Se a pedagogia não aprender a trabalhar com essas premissas (e no universo da escola o pedagogo acostumou a exigir condições ideais de trabalho de forma que quando estas não são atendidas ele pode ter um rendimento abaixo do esperado que se explica somente por estas condições não ideais) ela não pode vir a se tornar uma pedagogia empresarial.

O universo corporativo é muito diferente do universo escolar em termos de exigências e resultados, mas é muito parecido em termos de motivação e interesse em aprender. Enquanto na escola a capacidade produtiva e criativa do educando (para usar as palavras de Paulo Freire) é medida através de uma avaliação padronizada (que pode ser repetida em uma prova de recuperação) em um ambiente controlado (mundo escolar) na corporação a capacidade criativa e produtiva deste educando é medida em um contexto hiper dinâmico (no mundo real) que tem efeito em várias cadeias produtivas tanto em termos positivo quanto em termos negativos. A pressão sobre esse último educando é bem maior, por isso ele se desinteressa fácil por qualquer coisa que não lhe confira uma vantagem imediata sobre seus desafios cotidianos. Daí a idéia de treinamento ser mais agradável para ele do que a idéia de aprendizagem. Esses são alguns toques sobre a inserção da pedagogia no mundo corporativo. A pedagogia tem espaço, mas vai ter que aprender a trabalhar com base em outras metodologias de aprendizagem.

Primeira Dica – sociedade pós-capitalista de Peter Drucker

Esse livro é minha primeira indicação pelo simples fato de ter sido escrito pelo pai da administração moderna e conter um rol de mudanças sociais e corporativas que foram previstas por ele (ele faleceu em 2007) e estão se concretizando hoje. É um livro que fala de mudanças e de que como estas mudanças afetariam a vida das empresas e dos consumidores.

Para a pedagogia se tornar uma pedagogia empresarial ela precisa conhecer seu campo de atuação: as corporações. O Drucker dá esta visão geral de como funcionam e de como vai funcionar na sociedade pós-capitalista.

Vou transcrever algumas frases para você pedagogo empresarial pensar:
O recurso econômico básico – os meios de produção para usar uma expressão dos economistas – não é mais o capital, nem os recursos naturais (a terra), nem a mão-de-obra. Ele é e será o conhecimento. Pg 16

A produtividade das novas classes, as classes da sociedade pós-capitalista somente poderá ser aumentada pela aplicação do conhecimento ao trabalho. Maquina ou capital não poderão faze-lo. 19

O conhecimento tradicional era genérico. Aquilo que hoje consideram conhecimento é, por necessidade, altamente especializado. As pessoas educadas eram generalistas. Eles sabiam o suficiente para falar ou escrever sobre muitas coisas, o suficiente para compreender muitas coisas. Mas, elas não sabiam o suficiente para fazer nada. Como diz o velho ditado: você quer uma pessoa educada como convidada a sua mesa de jantar, mas não quer ficar sozinho com ela em uma ilha deserta, onde precisa de alguém que saiba como fazer as coisas. Mas, nas universidades de hoje “as pessoas educadas” tradicionais não são mais consideradas educadas. Elas são vistas como diletantes. 24

Através da historia, os trabalhadores podiam ser supervisionados. Podia-se dizer a eles o que fazer, como fazer, com que velocidade e assim por diante. Entretanto os trabalhadores do conhecimento não podem ser supervisionados. A menos que saibam mais sobre seu trabalho do que qualquer outra pessoa na organização, eles são praticamente inúteis. 40

O novo desafio enfrentado pela sociedade pós-capitalista é a produtividade dos trabalhadores do conhecimento e dos trabalhadores em serviços. 55

A comunidade que é necessária na sociedade pós-capitalista em especial para o trabalhador do conhecimento precisa ser baseada no compromisso e compaixão, ao invés de ser imposta pela proximidade e pelo isolamento. 131

Ainda não compreendemos muito bem como o conhecimento se comporta como recurso econômico; nossa experiência é insuficiente para formular uma teoria e testa-la. Por enquanto só podemos dizer que precisamos desta teoria. Precisamos de uma teoria econômica que coloque o conhecimento no centro do processo de produção de riqueza. Somente essa teoria poderá explicar a economia atual. 141
Há três tipos novos de conhecimento. O primeiro é o aperfeiçoamento continuado do processo, produto ou serviço. A seguir vem a exploração: a exploração continuada do conhecimento existente para desenvolver produtos, processos e serviços diferentes. Finalmente, há a inovação genuína. 142

Acima de tudo, o montante de conhecimento, isto é seu aspecto quantitativo, não é tão importante quanto a sua produtividade, isto é seu impacto qualitativo. 143

Se dependesse de sua produção de conhecimento cientifico e técnico, a grã-bretanha deveria ser a líder econômica do mundo na era posterior a segunda guerra. Antibióticos, o avião a jato, até mesmo o computador foram desenvolvimentos britânicos. Mas, o país, não conseguiu transformar essas realizações do conhecimento em produtos e serviços de sucesso, em empregados, exportações e posição de mercado. A falta de produtividade do seu conhecimento, mais do que qualquer outro fator, é a causa da lenta e constante erosão da economia britânica. 143

No ensino e no aprendizado, precisamos focalizar a ferramenta. No uso, precisamos focalizar o resultado final, a tarefa, o trabalho. Faca associações. Em grande parte a capacidade de fazer associações e com isso elevar o rendimento do conhecimento existente (seja, para o individuo, uma equipe ou toda uma organização) pode ser aprendida. Conseqüentemente ela deve se tornar ensinável. Ela requer uma metodologia para a definição do problema. Ela requer a analise sistemática do tipo de conhecimento, e de informação exigidos para um determinado problema, e uma metodologia para a organização de estágios nos quais um problema pode ser resolvido – a mesma metodologia que forma a base daquilo que chamamos de pesquisa de sistemas. 149

Ver as árvores e não ver a floresta é uma falha séria. Mas ver a floresta e não ver as árvores é igualmente sério. Para tornar o conhecimento produtivo, teremos que aprender a ver a tanto a floresta como as arvores. Temos que aprender a fazer associações. 149

A produtividade do conhecimento será o fator determinante da posição competitiva de uma empresa, uma industria, de todo um país. Nenhum país, industria ou empresa tem uma vantagem ou desvantagem natural. A única vantagem possível é a capacidade para explorar o conhecimento universalmente disponível. 149






3 comentários:

  1. Parece haver uma confusão ao pensar o mundo real como distinto do mundo da escola, uma vez que não são excludentes necessariamente, depois acredito que há um equívoco ao generalizar uma "prática produtiva" da escola, pois existe uma variedade de métodos construídos historicamente, consequentemente havendo diferentes formas de proceder no processo escolar (existe métodos que não avaliam segundo um modelo padronizado). Depois, cita-se que a escola é um ambiente controlado. Pois, gostaria de saber qual não é no limite. E certamente a empresa e a escola mantém uma identidade; gostaria de saber qual instituição é economicamente lucrativa sem estar associada ao capital. Isso é impossível, convenhamos. Inclusive, hoje alguns movimentos sociais fazem esforços para se diferenciarem da empresa. Talvez o que falte no texto é explorar essa distinção que, radicalmente, torna escola diferente de empresa: o que somente a escola poderá se tornar e o que somente a empresa poderá se tornar, quais as vantagens e desvantagens rais da associação.

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  2. Antes de tudo quero agradecer muito o comentário! Inteligentíssimo e pega o cerne da questão: ideal versus real. Realmente há uma diversidade de métodos que foram sendo construídos ao longo da evolução da sociedade, no entanto alguns são mais predominantes do que os outros tanto por uma questão de mercado (os pais pagam por padronização) como por questão de produção intelectual (é mais fácil reproduzir do que inovar e as faculdades vivem de tradição).

    O relativismo também se estende ao termo “controlado”. Existem ambientes mais ou menos controlados e esse controle também tem premissas diferentes. Em uma escola o controle se dá baseado por notas e cumprimento de normas (normatização, comportamento, notas, uniforme, obediência etc) enquanto na empresa a premissa reguladora do controle é o resultado. Veja o caso do criador do Playstation da Sony ( Ken Kutaragi), por exemplo. Ele era um rebelde e enfrentou até o neto do fundador e depois que sua inovação ( o próprio Playstation) gerou resultados financeiros muito bons ele se tornou presidente. Se fosse em uma escola ele estaria expulso do ambiente.

    A questão em si não é se a empresa (ou escola) esta associada ao capital (todas querem estar para ter lucro), mas se elas conseguem reproduzir os princípios básicos dele (como operar lucrativamente). Muitas querem, mas poucas conseguem reproduzir o principio da eficiência. A IBM era fortemente associada ao capital, mas a pequena empresa Microsoft é que conseguiu reproduzir com mais eficiência o principio capitalista. De fato, eu vejo hoje que os movimentos sociais é que querem mais se parecer com empresas buscando avidamente o principio da eficiência administrativa até antes da missão que elas se propõe a fazer. http://www.tvempregos.com.br/Detalhes_Blue.aspx?pCod=1939

    No texto procurei chamar a atenção justamente para o ponto de convergência entre a escola e as empresas. De fato, como bem afirmou Peter Drucker, essas duas instituições vão ficar muito parecidas (os setores avançados de ambos) que vai ser difícil distinguir uma da outra. A escola vai ser um ambiente de busca de eficiência prática e as empresas vão se tornar um ambiente de aprendizado conceitual contínuo...

    É uma boa questão para se pensar! Mas, valeu muito pelo comentário! Gostaria de continuar essa conversa!

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  3. Gostei muito do comentário do anônimo, agora a resposta para mim foi uma aula, um resumo do texto em questão. obrigado!

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