1 de out. de 2008

Resenha Resumo Pierre Levy "O que é Virtual": Google, Orkut, redes de tecnologia, técnica


Este é um dos primeiros livros que realmente buscam entender o fenômeno “virtual” através de uma analise menos “digitalizada” da internet. Até então somente pessoas do meio digital buscam trabalhar com o conceito de “virtual”, mas o problema é que elas só queriam trabalhar com o conceito de “virtual” e se negavam a trazer o virtual para o “real”. Se entendia, até bem pouco tempo atrás, que estes mundos eram mundos separados se não mundos antagônicos!
O primeiro autor que vai tratar seriamente o conceito dentro de uma ótica real e calcada em padrões acadêmicos (de análise e síntese) é justamente Pierre Levy! Claro que outros autores fizeram esta análise antes dele, mas a maioria destas análises beirava uma apologia ao virtual (dizendo que o mundo seria e não que o mundo seria diferente) ou o tratava como um acontecimento banal e sem importância (a internet é mais um videogame de adolescente). Agora Pierre Levy, é o primeiro que realmente vai se debruçar no assunto e estuda-lo a fundo. Logo no início da obra o autor vai buscar fundo o significado da palavra “virtual”.
A palavra virtual vem do latim medieval virtualis, derivado por sua vez virtus, força, potencia. Na filosofia escolástica e virtual o que existem em potencia e não em ato. O virtual tende a atualizar-se, sem ter passado no entanto pela concretização efetiva ou formal. A arvore virtualmente presente na semente. Em termos rigorosamente filosóficos, o virtual não se opõe ao real mas ao actual – virtualidade e atualidade são apenas duas maneiras de ser diferentes. (Levy, p.15). Somente com esta definição poderíamos fechar o livro e meditar de fato no conceito da palavra “virtualis”. Apesar da maioria dos internautas ainda compreenderem o virtual em oposição ao real, na prática, a maioria realmente pratica o conceito exposto por Pierre Levy! Incrível! Se analisarmos somente dois fenômenos da internet brasileira e mundial já podemos constatar que realmente o autor trouxe a tona a real definição da palavra virtual.
O youtube representa bem essa “atualização do real”. O site é composto basicamente por vídeos cotidianos do mundo real. Quando não são vídeos são paródias são caricaturas do mundo real. Se os vídeos não representam o real tentam demonstram como poderia ser esse real. Eles tentam atualiza-lo...No orkut ocorre o mesmo fenômeno! As pessoas não buscam o virtual, mas buscam recompor o seu real, atualiza-lo com informações do passado e do futuro. Quantas pessoas não se cadastram na comunidade do colégio onde estudou. Quantas não buscam aquele amigo que não via mais. Aquela ex-namorada, aquele antigo afeto, aquele antigo parente, aquele antigo emprego etc. O passado é resgatado para atualizar o presente...
Todos sabem que a informação esta lá: “O computador e portanto, antes de tudo um operador de potencialização da informação” (Levy, 41). O computador, potencializado pela internet, gera uma potencialização da realidade. Podemos, como um espelho mágico (igual ao do filme homem de ferro - tocar, arrastar, colar) trazer do passado lembranças e informações que não estão mais no nosso campo de ação. De fato, criamos um ambiente desterritorializado: “A economia contemporânea e uma economia da desterritorializacao ou de virtualizacao” (Levy,. 51)
A potencialização da realidade presente nos traz muitos outros benefícios que não o grande beneficio da desterritorialização (eu não preciso estar fisicamente com um ex-colega de sala para ter novamente a amizade dele e nem dispor de tempo, pois trocamos mensagem que ficam registradas), mas me traz também o conceito de que “A arvore virtualmente presente na semente”. Toda mensagem que deixo para um antigo colega meu é potencialmente uma relação de amizade com outro colega. Deixo a mensagem para A e ela fica lá um ano e depois deste tempo um colega C entra na rede do orkut e se depara com minha mensagem e vem atrás de mim criando um novo (ou renova um antigo) elo de amizade . Este novo elo de amizade já existia potencialmente naquela minha mensagem tal como uma árvore existe potencialmente em uma semente.
Na vida virtual quanto mais mensagens (ou rastros como na história de João e Maria que deixavam migalhas de pão) deixamos, mais potencializamos nossa realidade. Por isso o sistema colaborativo onde pessoas criam sistemas de comunicação e troca de informações sem ganhar nada estão se disseminando com tanta força. As pessoas podem não ganhar nada na hora, mas todas sabem instintivamente que o ganho esta lá e vai se manifestar de alguma forma em um futuro de médio ou longo prazo. Por isso elas colaboram e se empenham com afinco. Quanto mais rastros, mais potencialidade. Quanto mais você gastar seu conhecimento na internet, mais ele vai retornar para você:



Ora, os novos recursos chaves são regidos por duas leis que tomam pelo avesso os conceitos e os raciocínios econômicos clássicos – consumi-los não os destrói, e cede-los no faz com que sejam perdidos. 55



Sistemas colaborativos auto-geridos são uma tendência vibrante da internet e eles são trabalhados conceitualmente por Pierre Levy neste livro. Este livro é de 1996, mas mesmo neste período (onde nem se falava de Web 2.0 e muito menos de redes colaborativas) este autor já antecipava o perfil dos grandes magnatas da rede virtual. Hoje, com a ascensão do Google e do Myspace, é fácil afirmar que a internet é (como no tempo em que Microsoft enfrentou a IBM) que o lucro nem sempre esta com quem esta atrás do ouro (os produtores de conteúdo), mas pode estar com quem vende pás e picaretas para explorar as jazidas. Pierre Levy levantou a questão em 1996:



Mas, ao lado da oferta, o novo ambiente econômico e muito mais favorável aos fornecedores de espaços, os arquitetos de comunidades virtuais, aos vendedores de instrumentos de transação e de navegação que os clássicos difusores de conteúdo. 64



A propriedade de um determinado instrumento não seria o ponto de partida para a obtenção do lucro na medida em que o mundo virtual vive de circulação de informações e não de produção de informações. Os grandes“capitães” da internet, afirmou Ley em seu livro, seriam aqueles que facilitassem a circulação em alga escala e de forma altamente organizada. Ora não é isso que o Google faz? Eu sou cliente do google a meia década e nunca paguei um centavo a ele diretamente, de fato eu ganho dinheiro através do Google. Sou cliente do Google por sua capacidade de gerar fluxo e ele “me aceita como cliente” porque eu tenho capacidade de gerar conteúdo. Mas, o poder não esta comigo e sim com ele: Esse aperfeiçoamento se desenvolve em duas direções – passagem de um direito territorial a um direito de fluxo e passagem do valor de troca ao valor de uso” (Levy. 64)



Quantas pessoas iram ler esse artigo em que espaço de tempo? É provável que muitas, em muitos lugares e de muitas formas. O valor de uso deste artigo pode variar e muito: uso acadêmico(citações), uso pessoal (relacionar com a realidade), uso empresarial (novas oportunidades de negócio em rede) etc. Já recebi e-mail de agradecimento ou de negócios com artigos que havia escrito há mais de dois anos em portais que pensei estarem extintos. Mas, o conteúdo circulou e tem valor de uso ainda hoje. Conhecer as diversas linguagens (acadêmica, social e de negócios) que sedeve escrever e a potência do mundo virtual (potencialização do presente) nos permite sempre estar inserido nas mais diversas e complexas instituições.
Três processos de virtualizacao fizeram emergir a espécie humana – o desenvolvimento de linguagens, a multiplicação das técnicas e a complexificacao das instituições. 71



Este artigo pode ser usado por um acadêmico, por alguém que quer conhecer mais sobre a obra de Pierre Levy ou por um pequeno empresário empreendedor. Não posso antever “o que” eles utilizarão do artigo, mas pode antever “como” eles utilizarão. O “como” é mais importante do que “o quê” no mundo virtual. Quando você se cadastra no youtube ele não diz “o quê” você vai postar, mas diz “como” você vai postar, pois ele esta interessando em gerar um padrão de fluxo e criar um valor de uso (como) para o portal e não esta interessado em criar um valor de troca (o quê). Esta é a busca freqüente, e também a maior contradição do mundo virtual: a diversidade de “o quê publicar” gera uma busca frenética de “como publicar”. A diversidade é mola mestra da padronização.



A padronização permite a compatibilidade entre sistemas de informação, sistemas econômicos, sistema de transporte distintos. Ela autoriza deste modo a constituição de espaços econômicos, informacionais ou físicos abertos, de circulação livre cujas figuras salientes (carrões, aviões, computadores) cobrem na verdade um superfície coordenada, flutuante e continua de componentes articuláveis. 89



O padrão é ainda mais necessário quando a diversidade se torna ainda mais exuberante. Ai entram as técnicas para gerenciar todo o volume de conteúdo produzido. Ai entram as técnicas para potencializar o real. Ai entram as técnicas para desterritorializar a informação. Ai estão as técnicas para fazer o emergir o humano dentre os bites (alguém pode ler esse artigo que é uma informação no código binário 0101 e me procurar para conhecer o Ubiratan carne e osso). As técnicas estão são boas? Eu não disse isso! Então as técnicas são ruins? Eu também não disse isso! Vou deixar para Pierre Levy responder:



As técnicas não determinam, elas condicionam. Abrem um largo leque de novas possibilidades das quais somente um pequeno numero e selecionado ou percebido pelos atores sociais. 101



As técnicas não determina, mas elas condicionam. Eu sou condicionado a escrever este texto em uma planilha de Word (ou equivalentes). A técnica esta me condicionando no “como” eu escrevo, mas não me condiciona no “o quê escrevo”. Eu sou livre para fazer isso! Digo como habitante do mundo ocidental (excluindo-se Cuba) e da América Latina! Artigos sobre Pierre Levy escrito em Word tem milhares, mas minha inovação esta no “o quê escrevo” e é neste ponto que crio um centena de oportunidades. Percebendo o poder do virtual podemos concretizar muitas coisas no mundo real! Mas, como ele bem diz: “um pequeno número e selecionado ou percebido pelos atores sociais”. É PRECISO AMPLIAR ESSE NÚMERO...



Por isso temos que criar nos alunos uma “cultura de acesso” que venha a ter clareza de suas ações no mundo virtual que é um tremendo potencializador de realidades. Esta é a lição que fica de Pierre Levy...




4 comentários:

  1. Você potencializou as informaçoes de Pierre de um modo tão prático que dá gosto de ler... parece que se flutua pelo livro.

    Parabéns!

    Ione Dolzane

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  2. Obrigado Ione Dolzane! Os livros do Pierre Levy são muito bons, mas às vezes ele abstrai demais e você tem que se apegar a mensagem central da obra! Mas, é muito bom! Obrigado pelo recado! Valeu mesmo! Abraços!

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  3. Olá Ubiratan, sou aluna do curso de pedagogia 5° semestre, e estou sendo obrigada a ler este livro de Levy, para fazer um fichamento de comentario. e pela leitura complicada do livro nao estou conseguindo produzir muito, por isso procurei por seus comentarios... que por sinal acho que vão me ajudar muuito.
    obrigada...
    se vc tiver mais alguma coisa falando deste livro por favor envie para mim thaty-barreto@hotmail.com e no meu blog http://avaliacaoeeducacao.blogspot.com/
    por favor responda
    obrigada

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  4. Ok. Mas, o que tinha para escrever do livro eu sintetizei aqui, agora outra coisa é um áudio sobre o livro! Por isso estou em processo de transformar todo o material do blog em material em áudio que é mais rápido e mais fácil de compreender! Se eu fizer um áudio eu posto aqui, mas para agora não dá...rs

    Abraços

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